MDB pode lançar Michel Temer como terceira via em 2022

Em entrevista concedida ao Programa Novo Olhar, da Rede Bandeirantes, o conselheiro de administração da Itaipu Binacional, ex-deputado federal e ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, colocou o nome do ex-presidente da República Michel Temer na disputa da Presidência da República nas eleições de 2022. Ele falou sobre a administração do MDB e do trabalho que pretende fazer para mostrar que um Governo de Centro pode ser opção ao Governo de Jair Bolsonaro ou ao Governo de Lula.

“Há um movimento muito grande de reconhecimento ao papel do ex-presidente Michel Temer no comando do País. Eu sinto isso no meu dia a dia, logo após o fim do Governo Temer, tínhamos até dificuldade de andar em aviões e frequentar determinados ambientes, pois sempre eram registradas confusões. Porém, hoje já existe um reconhecimento ao bom trabalho realizado. É até difícil fazer uma viagem e não vir alguém dar parabéns pelas minhas atitudes enquanto ministro do Temer. O nosso Governo era breve e temos de destacar as nossas conquistas porque elas ainda não são conhecidas pelo grande público brasileiro. Algumas pessoas já começam a entender o que fizemos”, relatou.

Ele completa que o MDB assumiu o País depois de um processo de impeachment e, a partir dele, o Governo Temer teve três fases, começando a primeira a partir de 12 de maio de 2016, quando assumiu. “A primeira fase durou exatamente um ano e foi muito boa para o Governo e para o País. Quando assumimos, tínhamos uma inflação acumulada nos últimos 11 trimestres de 8,3%, o Brasil tinha encolhido sua economia em quase 10%, a inflação era de 10% e o juro básico de 15%. Nós tínhamos recessão e inflação, era o chamado Estado Inflação, que é o pior dos cenários que pode acontecer”, relembrou.

 

Marun acrescenta que os diplomatas nas embaixadas tinham de levar o papel higiênico no bolso. “Nós não estávamos comprando nem papel higiênico para as embaixadas, não pagávamos os organismos internacionais, não pagávamos os aluguéis das embaixadas, olha era uma situação calamitosa e vergonhosa, não só por ser o Governo do PT, pois no final a casa caiu mesmo, passamos a viver situações humilhantes, de sermos convidados a nos retirar de reuniões de órgãos internacionais por falta de pagamento”, recordou.

O ex-ministro acrescenta que, nesse contexto, o MDB assumiu em uma situação diferente. “A Fundação Ulysses Guimarães decidiu escrever um documento dizendo o que o MDB faria quando chegasse à Presidência da República. Não se falava em impeachment, quando ele foi escrito, mas, quando ele foi divulgado, já nos aproximávamos do impeachment. Esse documento, que é a Ponte para o Futuro, foi visto pelo Governo e pelo PT como uma prova de que nós estávamos conspirando, mas, na verdade, nós estávamos nos preparando para a eventualidade de chegar ao poder pelo voto, que é a obrigação de qualquer partido”, pontuou.

Chegada ao poder

Independentemente disso, o ex-deputado federal recorda que o MDB chegou ao poder e, talvez, tenha sido a primeira vez que alguém assumiu a Presidência da República sabendo exatamente o que iria fazer. “Além disso, tínhamos um presidente que sabia o que era ser presidente da República, que era o Michel Temer, com todo o respeito ao presidente Jair Bolsonaro, mas parece que até hoje ele não sabe o que é ser presidente da República. A partir da Ponte para o Futuro, o Michel Temer chegou sabendo o que fazer e essas coisas se uniram. Infelizmente nós não chegamos ao poder pelo voto da população, mas pelo impeachment aprovado pelo Congresso Nacional. Então, ele chamou os congressistas e estabeleceu um amplo arco de apoio e esse arco de apoio representado no Governo. Eu diria que o Centro governou naquele momento”, ressaltou.

Marun revela que, agora, foi convidado pelo presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Alceu Moreira, para fazer um resgate e valorização do legado do presidente Michel Temer. “Eu peguei minha lista de ex-ministros na gestão Temer e pedi para eles preparem alguma coisa sobre a atuação deles nos seus respectivos ministérios. Aí eu vi, quem foram os nossos ministros, um deles foi o Ricardo Barros, que hoje é líder do Bolsonaro na Câmara dos Deputados, o outro foi o Bruno Araújo, que hoje é o presidente do PSDB, ou seja, veja bem que aquele Governo foi o Centro Democrático no Poder. E tendo um norte estabelecido pela forma do Michel Temer governar e pelo o quê estava escrito no Ponte para o Futuro”, disse.

O ex-ministro garante que o MDB não fez como muitos, que, quando chegam ao poder, falam para esquecer o que disseram, o que escreveram e o que pensaram, pois agora é outra coisa. “Nós não, pois começamos a governar de acordo com aquela cartilha e isso fez com que tivéssemos um ano muito promissor. Nós aprovamos o Teto dos Gastos, pela primeira vez um presidente da República aceitava colocar na Constituição Federal limites para os seus próprios gastos. Tem muitos governantes que colocam os limites a partir da próxima gestão, o Michel Temer não. Ele colocou o limite para os seus próprios gastos. Aquilo nos trouxe uma coisa chamada credibilidade. Começamos a atuar e os resultados começaram a aparecer. Ainda tivemos recessão em 2016? Tivemos, mas já diminuiu muito e, em 2017, entramos no crescimento”, citou.

Segundo ele, Michel Temer não trabalhava para ser candidato à reeleição, ele não tinha essa questão como um ponto fundamental para a sua atuação. “Ele aceitou tomar medidas impopulares para que nós pudéssemos superar aquele momento. Então, nos sentimos fortes para colocar na pauta a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista, sendo que os resultados econômicos já eram estimulantes e chegamos a maio de 2017. Eu fui o presidente da comissão da Reforma da Previdência e conseguimos aprovar nesta comissão a reforma. Aí fomos em busca dos votos, que foi uma luta difícil. Quando chegamos em maio, as nossas contas nos deram a convicção de que tínhamos o número suficiente de apoio para aprovar no Plenário essa reforma. Eu chamei os membros da comissão para uma reunião no Palácio do Planalto às 19 horas do dia 17 de maio de 2017 e essa reunião serviu para concluir a primeira fase do nosso Governo”, informou.

Nesse mesmo dia, conforme Marun, entrava no ar uma reportagem com uma denúncia contra o presidente Michel Temer em função da conspiração da JBS. “Ninguém me convence de que aquilo aconteceu por acaso. Aquilo aconteceu porque o fato de o Brasil mais uma vez estar sinalizando para a possibilidade para dar certo e isso não agradava muita gente. E aí, como chefe dessa conspiração, que não se conformava com isso, o senhor Rodrigo Janot, que era o procurador-geral da República. Eu vivi esse momento dentro do Palácio da Planalto. O Janot cooptou a JBS, que enxergou a oportunidade para uma delação premiada, e ele viu a possibilidade de derrubar o presidente Michel Temer”, analisou.

A solução para o Brasil

Na avaliação do ex-ministro, a solução para o Brasil é um Governo de Centro. “Tanto o caso da JBS, quanto o caso do inquérito dos portos o presidente Michel Temer foi absolvido sumariamente, ou seja, a denúncia e a acusação foram imprestáveis. É claro que ambos os casos nos atrapalharam em muito, é claro que a grande rejeição do Michel Temer foi causada por isso, eu andava na rua e sentia essa rejeição e, se eu senti, imagina o presidente, mas, assim mesmo nós chegamos onde chegamos. O que nós temos de futuro? Nós temos uma eleição que tem polarização, onde estarão postos um governo de Direita, que é o Governo do Bolsonaro, e o governo de Esquerda, que é o Governo do Lula”, citou.

Obviamente, de acordo com Marun, vão se estabelecer comparações entre os dois. “Só que nós queremos que a população lembre, e por isso vamos começar um trabalho de divulgação, para que, entre esses dois, tenha o Governo de Centro, que foi o Governo do Temer. Nesse governo do Centro, as coisas andaram muito bem. Foi zerada a fila do Bolsa Família. Zeramos a fila, pois começamos a investigar e tiramos fora quem estava recebendo indevidamente. Todos aqueles que tinham direito estavam sendo atendidos. Demos continuidade às grandes obras, como por exemplo, a transposição do Rio São Francisco. É um Governo que tem condições de servir de exemplo do que é um governo de Centro, de como um governo de Centro apresenta melhores soluções para os problemas nacionais e como em um governo de Centro é possível que as pessoas sejam mais felizes”, afirmou.

O ex-deputado federal ressalta que o Governo de Centro pode sim fazer com que o Brasil seja mais feliz. “Nós queremos retomar isso. Queremos construir, digamos, uma candidatura de Centro que possa estar presente e nos livrar dessa polarização que a princípio vejo como não benéfica ao nosso País. Na própria Revolução de 64, nós fomos oposição, tivemos coragem de ser oposição, mas, de certa forma, não nos estabelecemos como Centro. Por quê? Porque a nossa esquerda, digamos assim, escolheu a luta armada. O senador Pedro Simon me falou uma vez que o MDB não foi para a luta armada, não porque tinha medo, mas porque não tinha chance de ganhar”, analisou.

Para ele, o MDB optou por uma oposição mais centrada do que aquela que a esquerda escolheu. “Eu não sou uma pessoa que critica a luta armada, várias vezes fui adversário do PT, por sinal, aqui em Mato Grosso do Sul, o PT é o nosso principal adversário. A luta armada foi um episódio que tem de ser visto naquele contexto, foi negada a possibilidade de expressão política daqueles jovens e, naquele momento, faltou lucidez e sobrou coragem. Não sou eu quem vou criticar isso, mas o MDB não, o partido manteve-se no centro, mesmo quando nós apoiamos o Governo do PT. Aqui no Brasil tivemos um Governo de ex-guerrilheiros, como José Dirceu e Dilma Rousseff, e não descambou, não virarmos uma Venezuela, uma Bolívia e nem chegamos perto de virar uma Cuba, então, o papel do MDB é fundamental e gosto de dizer que, apesar dos seus defeitos, é o melhor dos partidos”, afirmou.

Carlos Marun completa que o MDB está em um momento complicado. “Me preocupa em muitos momentos esse flerte do presidente Jair Bolsonaro tem com ideias totalitaristas. Na minha maneira de ver, isso está afastando dele, nem estou falando dos partidos de Centro, mas do eleitor de Centro, que foram os responsáveis pela sua eleição. Ele não ganhou a eleição só com os bolsonaristas, ele ganhou porque, principalmente no 2º turno das eleições, o Centro optou mais pela sua candidatura em relação a do Haddad do PT. E outra coisa, o Haddad teve 45% dos votos com Lula preso, então, quem desconsidera essas situações não está fazendo uma correta leitura da história”, pontuou.

Ele avalia que, neste momento, a obrigação do Centro político – e quem tem a cara desse Centro é o MDB, que já esteve no poder e fez o Centro chegar ao poder – é de oferecer uma alternativa para a sociedade para que não fique encurralada na necessidade de optar entre Bolsonaro e Lula. “Não me agrada a possibilidade de a eleição ficar polarizada. Na eleição passada, eu sou um dos centristas que votou no Bolsonaro no 2º turno, mas tenho certeza que muita gente hoje já começa achar que o caminho talvez não seja esse”, ponderou.

Pandemia

Para Marun, primeiro é preciso vencer a pandemia, a missão número 1 é a questão da pandemia. “Passou essa pandemia, a política vai passar a ser a grande questão da vida nacional e espero que até lá nós já tenhamos conseguido fazer com que a população conheça mais o que é um Governo de Centro para que comece a lembrar que, naquele breve tempo, foi mais feliz do que é hoje e do que foi até no Governo do PT”, afirmou.

Na entrevista, ele falou que o presidente Michel Temer não era uma pessoa extrovertida e teve suas divergências com o mandatário do País. “Não é como hoje que as divergências são públicas, hoje as divergências começam nas redes sociais e terminam em uma reunião, no meu tempo começavam e terminavam em uma reunião. Na gestão dele, você não leu notícias de divergências entre os ministros, mas elas aconteceram e muitas tiveram de ser decididas pelo presidente. Ele ouvia as partes de dizia que há decisões que têm de ser tomadas na solidão presidencial”, revelou.

Quando foi ministro, disse Marun, começou a tomar algumas atitudes sem perguntar para o presidente, pois, se não fosse assim, não adiantava nada ser ministro. “Sempre o que eu fiz foi o que o presidente achou que deveria ser feito? Lógico que não, tivemos um momento em que ele entendeu que a minha decisão era equivocada. Porém, ele não as corrigia publicamente, o Temer nunca me desautorizou publicamente, ele me chamava e dizia: Marun, eu acho que aí nós deveríamos ter feito assim. Eu já construía o meu caminho dessa forma. Então, a sabedoria do presidente, mesmo não sendo mais um jovem, ainda tem muito para contribuir para o País e que seria até um prejuízo para o Brasil nós aceitarmos simplesmente uma aposentadoria dele”, sugeriu.

Hoje, conforme ele, as questões judiciais estão praticamente todas dirimidas, já é claro que Temer foi vítima de conspirações. “Então, não sei se não é o caso de nós o colocarmos novamente na corrida presidencial. Da minha parte, é essa a vontade, mas ele ainda resiste a essa possibilidade. Neste ano, apesar de ser muito difícil, eu penso que, em termo de pandemia, o pico ainda é abril, estamos no pior mês, e, de agora em diante, a tendência é que vamos começar a superá-la, o que dá margem para que tenhamos um segundo semestre menos pior”, avaliou.

Em razão disso, Marun disse que até dá um desconto para o presidente Bolsonaro, afinal, ele começou a governar e em um ano foi surpreendido por uma pandemia. “Eu critico a forma como ele combateu essa pandemia, a forma como ele se postou, mas reconheço que não é fácil governar em um ambiente como esse. Por isso, quero um fim de ano melhor, no último trimestre de 2017, nós criamos 1,8 milhão empregos. Imagina se nós tivéssemos aprovado a Reforma da Previdência no momento que nós a apresentamos? Por isso que eu digo, esse pessoal atrapalhou o Brasil, conspirou contra o País, esse pessoal tinha de estar preso, o Janot tinha de estar preso, os donos da JBS tinham de estar presos, olha o prejuízo que deram à Nação”, apontou.

Para finalizar, o ex-ministro admite que o presidente Temer seria candidato se o cenário fosse positivo na época. “Não duvido, se nós tivéssemos aprovado a Reforma da Previdência, nós teríamos no fim de 2017 um crescimento forte, que possibilitaria que entrássemos em 2018 em condições de disputar a eleição para presidente da República, isso não seria nenhum crime, quem tem êxito nas suas realizações pode se apresentar ao eleitorado. Mas, infelizmente, isso não foi possível e por isso que digo: o Governo Temer é uma obra inacabada, quem sabe não voltamos? Porém, não sou eu quem comanda esse processo, ele continua na dele. Não está no meu horizonte uma disputa eleitoral, já dei a minha contribuição”, finalizou.

ae

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