O estudo também revelou tendências demográficas, com os homens e jovens de 20 a 29 anos como os maiores consumidores de bebidas com açúcar no planeta. Já em relação ao local de residência (em áreas urbanas ou rurais), na África Subsaariana e na América Latina e Caribe os centros urbanos concentram o consumo, enquanto na África Central e no Norte da África o consumo é maior na zona rural.
Os dados da pesquisa Global Dietary Database, que recebeu apoio financeiro da Fundação Bill e Melinda Gates e da Associação Americana do Coração, foram publicados na última terça-feira (3) no periódico científico Nature Communications.
As bebidas açucaradas são classificadas como todas aquelas não alcoólicas em que há adição de açúcares livres –refrigerantes, sucos de caixinha, preparados com aroma artificial de frutas e outras substâncias. A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Opas (braço americano da OMS) recomendam a taxação de bebidas açucaradas como forma de reverter o aumento de doenças ligadas ao consumo destas bebidas, como diabetes tipo 2, obesidade, colesterol alto e esteatose hepática.
No entanto, apenas oito países da América Latina e Caribe, incluindo Chile e Peru, possuem legislações próprias para a tributação dessas bebidas. Entre os países mais populosos, aqueles que apresentaram o maior consumo no período do estudo foram México (8,9 porções por semana), Etiópia (7,1), EUA (4,9) e Nigéria (4,9). No mesmo intervalo, o Brasil registrou queda de aproximadamente 40% no consumo de bebidas açucaradas (atingindo a marca de 4,4, em 2018), mas os estudiosos do tema no país relatam preocupação com o aumento do consumo principalmente entre crianças e adolescentes.
Estudos apontam que as bebidas açucaradas podem levar ao desenvolvimento de problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, obesidade e câncer, além de cáries e doenças bucais. Estes alimentos em geral são pobres em nutrientes, mas contam com campanhas publicitárias fortes.
É principalmente preocupante o aumento do consumo de bebidas açucaradas nas populações jovens de países da África e de menor renda, segundo mostram os dados da pesquisa.
De acordo com os autores, o contraste observado entre os países mais ricos analisados, que tiveram uma estagnação do crescimento no consumo, e aqueles com PIB (produto interno bruto) menor, revela como o nível de desenvolvimento social e econômico está relacionado à ingestão de bebidas açucaradas.
Por fim, fazem um apelo para que medidas eficazes de redução do consumo de tais produtos, como taxação de bebidas e monitoramento do consumo por faixa etária e local de residência, sejam implementadas como políticas públicas em saúde.
“Muitos dos esforços globais e locais para reduzir o consumo foram soterrados pelo forte lobby da indústria, incluindo o desprezo pelas evidências produzidas até aqui e estudos científicos enviesados financiados pelas próprias indústrias. O consumo de bebidas adoçadas aumentou em 108 países em 28 anos, mas muitas das políticas implementadas ocorreram após 2017, e os seus impactos não puderam ser avaliados a curto prazo”, dizem.
“Enquanto nossa pesquisa apontou que a América Latina e Caribe teve um aumento elevado no consumo, há diferenças regionais importantes que devem ser levadas em consideração para criar políticas públicas direcionadas em cada país”, concluem.
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