Levantamento divulgado pelo MapBiomas mostra que Corumbá em Mato Grosso do Sul é o município brasileiro mais afetado por queimadas em 2024, com 332,802 mil hectares destruídos. Os dados também revelam, através do “Monitor do Fogo”, que de janeiro a junho deste ano, o Pantanal foi o 3º bioma mais atingido pelas chamas, com 458,548 mil hectares.
No ranking de territórios mais afetados pelas queimadas, Mato Grosso do Sul está em 3º lugar, com 469,577 mil hectares prejudicados. Entre janeiro e junho deste ano, a área queimada no Pantanal aumentou em 529%, ou seja, a porcentagem é seis vezes maior do que a média do mesmo período dos anos anteriores.
Ainda conforme o mapeamento, a área degradada do bioma pode variar de 800 mil hectares (6,8%) até 2,1 milhões de hectares (quase 19%). Embora seja um local que convive com o fogo, a incidência de incêndios nos últimos cinco anos fez com que 9% das formações florestais no Pantanal, que são áreas sensíveis ao fogo, tenham sido prejudicadas.
Em 2023, foram mais de 600 mil hectares queimados no Pantanal, 97% dos quais ocorreram entre setembro e dezembro. O mês de novembro concentrou 60% do total da área queimada.
O Pantanal, também adaptado ao fogo, enfrenta incêndios intensos principalmente devido às secas prolongadas, em função das dificuldades de contenção das queimadas, qualquer foco pode gerar impactos significativos na fauna e flora locais.
Segundo Eduardo Rosa, da equipe Pantanal do MapBiomas, alguns dos vetores de degradação do Pantanal devem levados em consideração, diante do entorno do bioma, uma vez que todos os rios que irrigam naturalmente a planície pantaneira nascem em áreas de planalto.
“A remoção de vegetação nativa para a expansão agrícola e pecuária desprotege o solo e interfere na distribuição de água e sedimentos. A quantidade e a qualidade de água que chega na planície depende, ainda, de barragens e hidrelétricas que alteram os fluxos naturais da água. Questões climáticas relativas a precipitação e temperatura regulam as secas e inundações. O aumento de períodos de estiagem tem dificultado a resiliência do ecossistema pantaneiro”, acrescenta.
Cenário no pós fogo
Os incêndios no Pantanal causam impactos negativos de grande proporção e afetam, em diferentes escalas, a biodiversidade. Durante e depois do fogo, entre as identificações constatadas está a perda de habitat, um desequilíbrio que pode contribuir para conflitos na coexistência entre comunidades e a vida selvagem.
De acordo com o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), durante e depois do fogo, entre as identificações constatadas está a perda de habitat, um desequilíbrio que pode contribuir para conflitos na coexistência entre comunidades e a vida selvagem.
O estudo foi publicado na Global Change Biology e serve de dado científico para mensuração dos danos que o incêndio causa e pode ser utilizado para embasar decisões em nível global. O trabalho envolveu pesquisadores do IHP, do PANTHERA, da WWF, University of Oxford, Wildlife Conservation Society e Colorado State University. Ainda contou com o apoio da ISA CTEEP e ISA Conexiones, por meio do programa Conexão Jaguar – desenvolvido na Serra do Amolar (Pantanal).
Na pesquisa O fogo de 2020 no Pantanal passou e a etapa atual no cenário da biodiversidade do bioma é de recolonização. Porém, novas ocorrências ameaçam esse repovoamento bem-sucedido. Conservação e prevenção são as principais ferramentas para produzir natureza. O IHP vem trabalhando na prevenção por meio de seus programas Rede Amolar, Brigada Alto Pantanal e Felinos Pantaneiros.
Resumo das identificações
- Onça-pintada – A variação percentual no uso de habitat para onças entre o Ano 1 e o Ano 3 é aproximadamente 91,60%. Isso indica um aumento significativo no uso de habitat por jaguares nesse período. A variação percentual na densidade de onças entre o Ano 1 e o Ano 3 foi de aproximadamente -7,14%. Este resultado sugere uma ligeira diminuição na densidade de jaguares ao longo do período estudado, embora a variação não seja considerada significativa no contexto do estudo.
- Puma – A variação percentual no uso de habitat por pumas entre o Ano 1 (pré-incêndio) e o Ano 3 foi de aproximadamente -9,36%. Isso indica uma redução modesta no uso de habitat por pumas ao longo desse período.
- Jaguatirica – A variação percentual na ocupação de habitat por jaguatiricas entre o Ano 1 e o Ano 3 foi de aproximadamente -10,80%. Isso indica uma diminuição significativa na ocupação de habitat por esses animais durante o período estudado. A variação percentual na densidade de ocelotes entre o Ano 1 e o Ano 3 foi de aproximadamente 16,67%, indicando um aumento leve na densidade dessa espécie. Por outro lado o (home range) para ocelotes diminuiu cerca de 40% entre o ano antes dos incêndios e o Ano 3. Isso sugere uma redução significativa no espaço utilizado pela espécie, possivelmente devido às alterações no ambiente pós-incêndio.
- Anta – A variação percentual no uso de habitat por antas das terras baixas entre o Ano 1 e o Ano 3 foi de aproximadamente -9,84%. Isso indica uma redução no uso de habitat por esses animais ao longo do período estudado.
- Veado Mateiro – A ocupação diminuiu aproximadamente 15,09%.
- Queixada – O uso de habitat declinou cerca de 23,35%.
- Tatu-canastra – A ocupação teve uma queda abrupta de aproximadamente 82,37%
- Cutia – A variação percentual na ocupação do habitat por cutias entre o Ano 1 e o Ano 3 foi de aproximadamente -37,47%. Isso indica uma diminuição significativa na ocupação do habitat por essa espécie durante o período estudado após os incêndios
Fogo controlado
Nesta quinta-feira (11), o Governo do Estado informou que não há nenhum incêndio florestal no Pantanal de Mato Grosso do Sul. O anúncio foi feito durante transmissão ao vivo pela internet com atualização de dados sobre o combate ao fogo. O cenário atual é resultado do trabalho intenso coordenado pelo Governo do Estado envolvendo militares e brigadistas por terra, água e ar, aliado as condições climáticas favoráveis.
“O satélite tem uma base de captura acima de 47ºC, então mesmo não havendo incêndios hoje no Pantanal sul-mato-grossense a gente faz as atividades de monitoramento e rescaldo”, explica a tenente-coronel Tatiane Inoue, diretora de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar, responsável pelo monitoramento e ações de combate aos incêndios florestais em Mato Grosso do Sul.
A preocupação agora é com a queima lenta em troncos de árvores, por exemplo, nas áreas atingidas pelo fogo. É preciso fazer o rescaldo para evitar a reignição.
“Apesar de uma massa de ar frio ter chegado esta semana favorecendo as condições de combate, diminuindo a temperatura e aumentando a umidade relativa do ar, as nossas equipes combateram os incêndios até a extinção, mas a tendência é que nos próximos dias as temperaturas voltem a se elevar, a umidade relativa do ar diminua e podemos ter mais uma vez uma sequência de incêndios no bioma”, alerta a tenente-coronel.
CBMMS/CE
*Colaborou Daiany Albulquerque