Em um domingo de eleição em Sidrolândia, o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Gerson Claro, foi além de depositar seu voto. Entre uma conversa e outra após votar na Escola Municipal Valério Carlos da Costa, ele lançou uma proposta que promete mexer com o calendário político brasileiro: a unificação das eleições de vereador a presidente da República. Para ele, essa mudança não só simplificaria a vida do eleitor, como também traria mais eficiência ao planejamento do país.
Gerson acredita que o Brasil já tem as bases necessárias para essa mudança, principalmente com o suporte das urnas eletrônicas. “Nosso processo democrático está consolidado por um suporte tecnológico que garante a transparência do processo eleitoral, com urnas eletrônicas blindadas a qualquer tentativa de fraude”, afirmou.
A proposta não é nova. Ela está em tramitação no Congresso Nacional em forma de duas emendas constitucionais que visam ajustar o calendário eleitoral. A ideia é que, a partir de 2028, prefeitos e vereadores sejam eleitos para mandatos excepcionais de seis anos, permitindo que a partir de 2034 todas as eleições aconteçam juntas, do nível municipal ao federal.
Gerson Claro, presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, exercendo seu direito de voto nas eleições de 2024.
O peso de eleições constantes
Para Gerson, a frequência das eleições no Brasil tem um impacto negativo sobre o planejamento governamental. “A cada dois anos, paramos tudo por causa das eleições”, lamentou. Ele explicou que, em anos eleitorais, há uma série de limitações, como a suspensão de transferências de recursos por meio de convênios, o que afeta a execução de políticas públicas. “Isso atrapalha o andamento de projetos de longo prazo, e estamos sempre interrompendo as administrações para focar na próxima campanha.”
O custo das eleições é outra questão levantada por Gerson. A estimativa é de que as eleições de 2024 custem aos cofres públicos R$ 11 bilhões. A unificação, segundo ele, não apenas reduziria esses gastos, mas também tornaria o processo eleitoral menos frequente e mais organizado.
Memória eleitoral: uma questão superada?
Entre as críticas à ideia de unificar as eleições, está o argumento de que o eleitor se sentiria confuso ao ter que votar para muitos cargos no mesmo dia. São sete ou oito candidatos em disputa em alguns cenários, quando há vagas no Senado. Para Gerson, essa preocupação perdeu força com a chegada da internet e das redes sociais.
“Hoje em dia, com as redes sociais, o acesso à informação é muito rápido. Não faz mais sentido dizer que o eleitor vai se confundir”, explica o deputado. Ele acredita que, com mais ferramentas para se informar, o eleitorado brasileiro tem plenas condições de lidar com uma eleição unificada. Além disso, ele destaca que a imprensa e os veículos tradicionais continuam desempenhando um papel fundamental em ajudar a população a se preparar para o dia da votação.
A experiência de 1986 e o futuro das eleições
A ideia de eleições unificadas não é algo sem precedentes no Brasil. Em 1986, antes da volta das eleições diretas para presidente, o país teve uma experiência de unificação nas esferas municipal, estadual e para o Congresso Nacional. Embora os tempos tenham mudado, Gerson vê nessa experiência uma referência para o futuro.
Com a unificação, ele acredita que o país poderia planejar melhor e com mais estabilidade. “As eleições de dois em dois anos criam um clima de quase perenidade eleitoral”, observa. Para ele, esse ciclo ininterrupto de campanhas prejudica o ritmo das administrações, que sempre acabam voltando suas atenções para a próxima eleição antes mesmo de concluir seus projetos.
A proposta de unificação ainda precisa de muito debate no Congresso e só poderia ser implementada a partir de 2028. No entanto, Gerson Claro já se coloca como um defensor dessa mudança. Ele vê no calendário unificado uma forma de otimizar a política brasileira, reduzindo custos e melhorando o planejamento. Resta saber se os outros atores políticos concordarão com ele.
actc